segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Brigas levam à falência 65% das empresas de gestão familiar

"As empresas familiares dominam o mundo dos negócios e são também as que concentram os maiores problemas. Pesquisa divulgada pela Consultoria Bernhoeft revela que 95% das empresas são familiares e que 65% das falências ocorrem por conflitos entre os membros da família e não por problemas com o mercado.As transições de comando são apontadas como os momentos de maior risco. De acordo com o consultor Renato Bernhoeft, um dos autores do livro “Família, família, negócios à parte”, lançado neste mês pela editora Gente, apenas 33% das empresas familiares sobrevivem sob o comando da segunda geração. Esse índice cai para 14% na transição da segunda para a terceira geração de herdeiros.“Se não estiverem preparados, com um bom planejamento de sucessão e continuidade, não seguem para frente”, disse.Visão profissionalManoel Júlio Filho, um dos nove sócios herdeiros da empreiteira Júlio & Júlio, que está há 47 anos no mercado, conhece bem esse desafio.Para manter a estabilidade da empresa, ele acredita que é necessária a profissionalização daqueles que atuam nela. Essa visão ele passa para o seus filhos. “Eu quero que eles estudem e tenham uma experiência fora de até três anos, para depois assumir qualquer cargo dentro da empresa e, mesmo assim, se houver a necessidade dentro do nosso quadro”. Somente com essa visão profissional, diz ele, o negócio se mantém fortalecido.Ele reconhece que nem sempre é possível manter uma linha única de atuação dentro de uma empresa familiar, onde existem muitos proprietários. Embora sejam pessoas da mesma família, Manoel Júlio diz que cada um acaba tendo uma visão diferente do que é uma empresa, principalmente as novas gerações.Prioridade é a empresaAos 72 anos, o empresário Luiz Pagliato ainda está no comando da Minercal, empresa que atua na produção de cal, argamassa e tintas, há 46 anos no mercado. Seu braço direito, no entanto, é o filho Luiz Pagliato Junior, que responde pela superintendência.Eles, porém, não estão sozinhos na administração. Outros seis sócios fazem parte do corpo do conselho.Pagliato Junior afirma que o ponto primordial dentro de uma empresa familiar é o respeito entre aqueles que atuam no negócio. O segundo, destaca ele, é deixar de lado as vaidades. “Todos têm que ter como foco apenas os interesses da empresa”.Ele diz que, no decorrer desses 46 anos, cada herdeiro foi se enquadrando naturalmente dentro da atividade de acordo com seu perfil. “Mesmo que o convívio familiar não seja o mesmo, mantemos como prioridade os nossos negócios”, diz.Orientação é fundamentalO empresário José Vicente de Souza não pensa em se aposentar, mas faz questão de dividir a administração do seu negócio com os quatro filhos, cinco sobrinhos e o primo, Hélio Vanderlei.Ele é o proprietário da Padaria Real, uma das mais tradicionais de Sorocaba, há 50 anos no mercado. A sua receita para manter o sucesso de uma empresa genuinamente familiar está na orientação e na transmissão de valores para aqueles que passam a fazer parte do negócio. “Não tem outro jeito a não ser trabalhar com amor, honestidade e pensar que o dinheiro e o sucesso são frutos do bom trabalho”.Souza garante que os problemas de uma empresa familiar são os mesmos de outras empresas, o importante é sempre manter o respeito e a confiança entre aqueles que trabalham. “O que não pode é deixar que problemas pessoais sejam empecilhos nos negócios”.

Lúcia Marques